quarta-feira, 9 de abril de 2008

Polanyi e outros

Pessoal, o Wally me pediu para passar aqui os capítulos que precisamos ler do livro do Polanyi "A grande transformação" (The Great Transformation) que eu colocarei amanhã no CTC na sua versão em inglês. São eles os cap. 1, 4, 6, 18 e 21.
Ainda vou colocar na pasta um capítulo sobre o Direito em Neumann (cap. 4 do livro "The Rule of Law Under Siege: Selected Essays of Franz Neumann and Otto Kirchheimer" editado por William E. Scheuerman) e os cap. 3 e 4 de "The Age of Extremes" do Hobsbawm, como também pediu o profe.
Não quero nem saber das piadinhas. O encontro e o pedido foi casual.
Até a próxima.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Easter Promisses

Atendendo à pedidos resolvi iniciar a seção cinematográfica, também pra apoiar o Fernando e seus heterônimos (Wally; Rugtsky; Lennon) que participam tão ativamente do blog.

Gostei desse último filme do Cronenberg. Achei melhor do que os dois últimos (Spider e Marcas da Violência).

O que especialmente me agradou foi a ambientação "russa". Além de bruto, seco e grosso o filme é frio. A maioria das cenas ocorre em ambientes fechados: na cozinha, restaurante, barbearia, hospital, casa, sauna... Apesar de se desenrolar em Londres passa uma sensação de estar muito frio lá fora como se estivessem em Moscou ou São Petersburgo.
Os personagens também são tristes, aéreos, distantes, obscuros... passam melancolia.

Outro ponto interessante é que não fica claro quem é protagonista da história. Durante o filme a narrativa vai oscilando entre o motorista, a enfermeira e o mafioso.

E ai, que acharam?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Atrás do fetiche

A crise econômica que começou nos EUA foge do tema das nossas reuniões, mas já passou da hora de a colocarmos na nossa pauta para os bate-papos de bar e de blog. Será que vai quebrar tudo? Será que teremos que substituir os hamburgers do McDonald's por frango xadrez e yakisoba? Tem alguma coisa a ver com 1929, como alguns dizem? É o espectro do fetiche que não nos permite compreender nada? Há muito mais perguntas do que respostas. Vamos começar a palpitar juntos?

Segue uma sugestão de leitura para dar o ponta-pé inicial: http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_44.pdf. É um texto curto e bem didático, explicando um pouco o mecanismo da crise e o significado de todas as siglas e expressões que tem povoado o noticiário. A conclusão parece muito otimista, mas a explicação é boa.

(Inauguramos assim o marcador "Atrás do fetiche", dedicado ao debate sobre os tropeços do capitalismo contemporâneo que são velados por relações cada vez mais fetichizadas.)

Novos integrantes, discussões antigas

O nosso grupo já começou este ano com dois novos integrante em relação ao ano passado (Gladston e Ricardo) e parece que mais pessoas vão se juntar a nós (a Mari Valente manifestou interesse e talvez alguns dos recém-selecionados petianos queira participar). Assim, faço as seguinte ponderações. A discussão desse semestre, depois do debate entre Pollock e Neumann, será uma retomada dos debates que foram feitos até agora, buscando comparar Schumpeter, Polanyi e Pollock. Por isso, me disponibilizo a fazer umas duas reuniões extras, com os novos e com quem mais queria participar, para discutir panoramicamente os textos que lemos do Schumpeter e do Polanyi, a fim de homogeneizar um pouco as leituras do grupo. Seria bom se fizéssemos isso nas próximas três semanas, antes de acabar as reuniões sobre o Neumann. Que tal? Manifestem-se e proponham datas para que possamos decidir na próxima quinta.

Qualificação

Gente,

conforme combinamos na última reunião, discutiremos a minha qualificação nesta sexta-feira, dia 28, às 16h30. Só para quem estiver afim, já que se trata de uma reunião extra, fora do programa do nosso grupo. Já mandei o texto pelo e-group. Se alguém não recebeu, me avise.

Abraços.

domingo, 23 de março de 2008

Sobre a última semana

Nessa última semana, rolaram três debates curiosos entre os economistas. Os dois primeiros referem-se à crise americana.

Um deles foi sobre a violenta queda dos preços das commodities. A miopia usual dos economistas de banco criou, recentemente, o debate sobre o decoupling. Trata-se da hipótese de que a economia dos Estados Unidos já não é mais tão importante para o mundo como um todo e que o resto dos países poderiam passar imunes a sua crise. Dizia-se que as trajetórias das economias nacionais estavam "descasadas" ou, para usar o termo chique, decoupled. Esqueceram de avisá-los que o processo contínuo de expansão do capital há muito criou um mundo completamente interdependente. O único "descasamento" concebível é aquele entre a dinâmica do capitalismo e os modelos dos economistas ortodoxos. É verdade que o percentual dos EUA no PIB mundial vem caindo e que a China tornou-se mais um pólo dinâmico da economia do mundo. Mas achar que o império pode cair sem afetar as economias dos bárbaros é um delírio. O tal decoupling estava baseado no contínuo aumento dos preços das commodities, que não haviam sido afetados pela crise dos EUA. Não haviam ainda, agora foram.

Outra notícia interessante do front da crise é a disseminação das defesas sobre uma nova regulação do sistema financeiro internacional. Economistas minimamente progressistas (e até uns assumidamente conservadores) estão abertamente propondo uma regulação financeira mais rígida como resposta à crise. Dois exemplos são interessantes: Paul Krugman e César Benjamin. O que os une? Quase nada, além de ambos terem textos publicados na Folha de sábado que diziam coisas muito parecidas. Se o texto do Krugman é mais rico em detalhes, sua postura parece mais tecnocrátiva. César Benjamin preocupa-se mais em apontar a rede de interesses que sustenta, politicamente, a desregulação financeira. De qualquer forma, ambos defendem mais regulação. As implicações disso podem ser muito maiores do que se imagina à primeira vista. Talvez seja o momento de revisitar a proposta feita por Keynes em Bretton Woods.

Último debate: na ata da última reunião do Copom, os diretores do Banco Central indicaram que podem aumentar a taxa Selic na próxima reunião, uma vez que a demanda está crescendo mais rápido do que a oferta (conforme indicaram os dados do PIB do ano passado, divulgados recentemente) e há risco de pressão inflacionária. Ou seja, mais uma vez o BC trucou o governo. Quando as coisas parecem estar se encaminhando, ele chega de mansinho e lembra: "estou de novo com aquele impulso de acabar com a festa". E o pior é a reação do governo. Como um aumento da Selic seria muito ruim, Mantega já cogita segurar um pouco a demanda para evitar que o BC tome essa medida. A idéia é dificultar a concessão de crédito. Não dá para acreditar. A economia do Brasil finalmente cresce a uma taxa razoável e, à beira de uma crise econômica mundial que pode frustrar a continuidade desse crescimento, o governo já se antecipa e promete garantir a frustração antes que ela venha dos EUA. Esses diretores do BC estão, sim, completamente decoupled. Ou melhor, estão casados na Igreja e no cartório com os interesses dos grupos financeiros, os nossos e os gringos. Tristeza. Fica sobre isso, a melhor frase da semana, para fechar: "Se alguém encostar um revólver na minha cabeça e me obrigar a optar entre aumentar a Selic ou limitar o crédito, prefiro a segunda opção." Júlio Gomes de Almeida. Quem se habilita a tirar o revólver da mão do Capitão Meirelles?

Alteração do Programa

Caras e caros,

alterei o nosso programa. Relendo o Behemoth, achei que valia a pena pularmos o capítulo 2 da Segunda Parte, pelo bem-estar de vocês e para que nos foquemos nas questões mais importantes. Assim, mudei as páginas a serem lidas nas próximas três reuniões. O programa publicado aqui no blog já está atualizado. A carga ficou um pouco mais leve, naturalmente. Para esta semana, ficou o capítulo 1 e o começo do capítulo 3. Não deixem de ler.

Abraços.

quinta-feira, 13 de março de 2008

De calças curtas

Se este blog chama-se "Crítica e Economia", nada mais adequado do que começar criticando as bobagens que o governo (este e os anteriores) vêm fazendo e que nem mereciam o nome de "política econômica". Bom, é o seguinte: há muito tempo que já se sabe que o verdadeiro canal da política de combate a inflação no Brasil é o câmbio. Explico: a taxa de juros é tida como um instrumento de política monetária, porque pode, quando elevada, contrair a demanda (diminuindo os créditos tomados por empresas e por consumidores) e assim segurar a elevação dos preços. No Brasil, no entanto, esse mecanismo não funcionava. O volume de crédito era tão irrelevante, até setembro de 2005 (quando a Selic começou a cair e quando começou o boom do crédito no país), que as alterações da taxa de juros pouco afetavam a demanda. Mas, então, por que deixaram a Selic lá em cima? Justamente porque o mecanismo da política de estabilização era o câmbio. Como as taxas de juros do Brasil estavam (e estão) entre as maiores do mundo, o capital estrangeiro era (e é) atraído para cá e valorizava (e segue valorizando) o câmbio. Com o câmbio valorizado, as importações ficam mais baratas e seguram os preços para baixo. É o sentido da metáfora "âncora cambial"; é o mesmo que fez o Gustavo Franco no primeiro governo FHC. Quais são, então, as conseqüências dessa medida? Basicamente, a combinação do câmbio valorizado com o preço em alta das commodities (decorrente da crescente demanda da China), incentiva substancialmente a nossa produção de bens primários (viva a soja!) e desincentiva nossa indústria doméstica (porque podemos importar bens manufaturados mais baratos). Não é o caso de falar em desindustrialização, mas os efeitos no longo prazo podem ser muito ruins para a estrutura da economia brasileira. Não custa lembrar que o crescimento da China é sustentado por, entre outras coisas, um câmbio DESvalorizado, incentivando a produção industrial doméstica. O pior é que em 2006, para reforçar a política de estabilização, o governo brasileiro isentou de imposto de renda os estrangeiros que investissem no Brasil. Valoriza-se mais o câmbio e, de quebra, transforma o Brasil em um território ainda mais favorável à valorização financeira dos capitais estrangeiros.

Bom, e agora? Agora, o que mudou é que o dólar está se desvalorizando como conseqüência da crise do mercado financeiro. Todas as outras moedas automaticamente tendem a se valorizar. Ainda mais porque, no curto prazo, os capitais estão fugindo dos estouros lá de cima e tentam se esconder aqui embaixo. Como já estávamos fazendo uma política de valorização cambial (apesar do discursinho de que o câmbio é flutuante), agora essa valorização a mais pode se tornar perigosa. Fomos pegos de calças curtas. E o governo está tentanto apagar o incêndio com conta-gotas, discutindo aumentar o IOF cobrado dos investidores estrangeiros entre outras coisas. O problema é que se a crise se aprofundar (e garanto que vai, mas isso é assunto para outra hora), a liquidez internacional some, nossas comemoradas reservas internacionais evaporam e o câmbio se desvaloriza. E aí? Impossível saber os efeitos da crise por aqui...

Enfim, isso tudo é apenas mais um reflexo da nossa política de juros profundamente conservadora. Se a Selic não fosse uma das taxas mais altas do mundo, nosso câmbio não estaria tão valorizado e agora teríamos maior margem de manobra para enfrentar a crise. E, lembrem-se, esse é apenas um dos problemas causados pela política de juros.

Seguem abaixo, os links para a repercussão das medidas divulgadas pelo governo para atenuar a valorização cambial. Foi manchete de capa da Folha:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1203200814.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1203200815.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1203200816.htm

E o comentário do Vinícius Torres Freire sobre o assunto (um dos mais lúcidos, embora às vezes um pouco conservador, comentaristas econômicos da imprensa brasileira):

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1203200808.htm.

Programa para o Primeiro Semestre de 2008


Objetivo:
Este Grupo de Estudos completou um ano de existência. No primeiro ano, foram lidas e discutidas partes substanciais das obras principais de Rudolf Hilferding, John Maynard Keynes, Joseph A. Schumpeter e Karl Polanyi, além de algumas discussões introdutórias sobre a história do período e sobre a metodologia da história do pensamento econômico. As discussões acerca de Hilferding e Keynes precisariam ser retomadas mais adiante e aprofundadas, dada a complexidade do pensamento de ambos e o denso conhecimento que é pressuposto nas suas obras. Já os debates sobre Schumpeter e Polanyi foram muito bem sucedidos, de forma que os integrantes já dispõem de um conhecimento razoável sobre ambos. O objetivo do grupo para este semestre, então, será concluir o ciclo de autores originalmente escolhidos e consolidar as discussões sobre as transformações do capitalismo na primeira metade do século XX, amarrando algumas discussões passadas e buscando uma avaliação mais diretamente comparativa dos autores estudados. Começaremos, assim, pela recepção do debate acerca do período no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, especificamente, pela muito mencionada, mas pouco conhecida, polêmica entre Friedrich Pollock e Franz Neumann. O restante das reuniões será dedicado à leitura de textos panorâmicos sobre o período, textos de comentadores dos autores estudados e alguns textos adicionais de Schumpeter e de Polanyi. No semestre seguinte, avançaremos algumas décadas, começando um estudo sobre os trinta anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial. Tal discussão poderá partir de todo o acúmulo que o grupo adquiriu neste primeiro ano e meio e alcançará questões mais contemporâneas. Os principais autores abordados serão Giovanni Arrighi, Robert Brenner e David Harvey.


Periodicidade:
Semanal: todas as quintas-feiras, às 19h30

Textos:
1: O debate no marxismo heterodoxo: Pollock e Neumann

Reunião 1 – 06/03:
JAY, Martin (1973). Dialectical imagination: a history of the Frankfurt School and the Institute of Social Research (1923-1950). Berkeley: University of California Press, chap. 5, pp. 143-172.

Reunião 2 – 13/03:
POLLOCK, Friedrich (1941/1989). “State capitalism: its possibilities and limitations” in BRONNER, Stephen Eric; KELLNER, Douglas MacKay (eds.). Critical Theory and Society: a reader. New York: Routledge, pp. 95-118.

Reunião 3 ­– 27/03:
NEUMANN, Franz (1942/1943). Behemoth: pensamiento y acción en el nacional-socialismo. Trad. Vicente Herrero y Javier Márquez. México: Fondo de Cultura Económica, Segunda Parte, caps. I e III (seções 1 e 2), pp. 251-266 e 289-308.

Reunião 4 ­– 03/04:
NEUMANN, Franz (1942/1943). Behemoth: pensamiento y acción en el nacional-socialismo. Trad. Vicente Herrero y Javier Márquez. México: Fondo de Cultura Económica, Segunda Parte, cap. III (seção 3) e IV (seções 1-3), pp. 308-353.

Reunião 5 ­– 10/04:
NEUMANN, Franz (1942/1943). Behemoth: pensamiento y acción en el nacional-socialismo. Trad. Vicente Herrero y Javier Márquez. México: Fondo de Cultura Económica, Segunda Parte, cap. IV (seções 4-7), pp. 353-401.


2: História do Entre-Guerras e do Pensamento Econômico do Período

Reunião 6 ­– 17/04:
HOBSBAWM, Eric (1994). The Age of Extremes: a history of the world, 1914-1991. New York: Pantheon Books, chaps. 3-4, pp. 85-141.

Reunião 7 – 24/04:
SCREPANTI, Ernesto; ZAMAGNI, Stefano (1993). An Outline of the History of Economic Thought. Trad. David Field. Oxford: Clarendon Press, seções 5.1, 6.1, 7.1 e 8.1, pp. 145-155, 176-178, 212-226 e 248-258.


3: Comparando Diagnósticos: a crise e as perspectivas de recuperação

Reunião 8 – 08/05:
SCHUMPETER, Joseph A. (1946). “The Decade of the Twenties”. In: The American Economic Review, Vol. 36, n. 2, may 1946, pp. 1-10.
SCHUMPETER, Joseph A. (1931). “The Present World Depression: a Tentative Diagnosis”. In: The American Economic Review, Vol. 21, n. 1, mar. 1931, pp. 179-182.
POLANYI, Karl (1933/2006). “Mechanisms of the World Economic Crisis 1931-1933”. In: MCROBBIE, Kenneth; LEVITT, Kari Polanyi (eds.). Karl Polanyi in Vienna: the contemporary significance of The Great Transformation. 2nd. Ed. Montreal: Black Rose Books, pp. 347-358.

Reunião 9 – 15/05:
SWEEZY, Paul M. (1942/1956). The Theory of Capitalist Development: Principles of Marxian Political Economy. New York: Monthly Review Press, chap. XIX, pp. 348-363.

Reunião 10 – 05/06:
HEILBRONER, Robert L. (1981/1992). “Was Schumpeter right?”. In: BLAUG, Mark (ed.). Frank Knight, Henry Simons, Joseph Schumpeter. New York: Edward Elgar, pp. 141-156.

Reunião 11 – 12/06:
CANGIANI, Michele (1994/2006). “The Continuing Crisis of Democracy”. In: MCROBBIE, Kenneth; LEVITT, Kari Polanyi (eds.). Karl Polanyi in Vienna: the contemporary significance of The Great Transformation. 2nd. Ed. Montreal: Black Rose Books, pp. 32-46.